domingo, 18 de julho de 2010

Os (des)encontros nas relações amorosas

Ontem assisti dois filmes, típicos comédia romântica americana, um deles é o A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth), com direção de Robert Luketic, o outro, Ele não está tão a fim de você (He's Just Not That Into You), de Ken Kwapis, ambos lançados em 2009 e focam a questão, em princípio contraditória, dos sentidos atribuídos às relações amorosas e ao casamento, pelos homens e pelas mulheres.

Enquanto assistia, percebi-me num revive de quando adolescente (final da década de 70), com todas aquelas crises existenciais bem típicas das adolescentes daquela(?) época. Questões como: "Será que posso revelar que gosto dele? E se ele souber, será que vai me querer? Vou então pedir à uma amiga para sondar de quem ele está a fim, daí não corro o risco.... (Depois já namorando...) Será que posso ligar prá ele, sem que ache que sou fácil? (Depois de um bom tempo de namoro...) Será que vamos casar?", eram frequentes nos assombrar quando estávamos a fim de um rapaz ou mesmo já namorando.

No entanto, percebo que, quase 30 anos mais tarde, tais crises ainda continuam presentes, mesmo que sob outras roupagens, e ainda acho que isso será ad eternum enquanto existirem homens e mulheres.

Pode parecer um tanto démodé querer reacender as questões da guerra entre os sexos, da época em que a mulher viu-se emancipada das garras dos homens e os toma como rivais, mas ainda os deseja e tem medo de como eles acolherão o seu afeto. Bem como do homem que se depara com uma mulher mais autônoma, segura e atuante, mas que se relaciona com ela querendo que não seja tão espontânea com seus desejos. Olha minhas amigas e meus amigos, acho que esta mudança ocupou um bom espaço no mundo do trabalho, mas no campo afetivo ainda estamos meio perdidos quanto a nossa liberdade e autonomia...

Nos dois filmes, em princípio, os lugares dados às mulheres é o do desejo pelo compromisso sério e do casamento e ao homem, o do desejo erótico e sem compromisso, mas com o passar do filme e com o "aprendizado das mulheres de que não devem demonstrar seus desejos para os homens", conseguem fisgá-los e estes, por sua vez, ficam apaixonados, como se fosse "impossível" viver sem o amor delas (ao contrário do papel inicial dado a eles).

Será que para que o relacionamento amoroso aconteça, haverá sempre a necessidade de ambos caminharem em desencontros? Sem a possibilidade de serem espontâneos para assumirem seus desejos?

A esses fenômenos poderíamos atribuir várias "causas": questões biológicas que diferem ambos, questões culturais de uma sociedade machista, questões econômicas, questões individuais pelo medo de arriscar-se, enfim....acredito que conhecer as causas não é o mais importante, mas sim ter consciência do que fazemos com nossas relações.

No entanto, acredito também que outras questões são gritantes: a dificuldade que temos de reconhecer que necessitamos do Outro para nos sentirmos amados e a dificuldade de reconhecermos essa necessidade como algo bom, revigorante, necessário para construirmos projetos em comum, que sozinhos não conseguimos e também a dificuldade de entendermos que há possibilidade da superação dos conflitos na própria relação, sem precisarmos querer alguém já pronto.

Parece vergonhoso dizer que gostamos de alguém, que queremos construir com ele(a) uma vida em comum (respeitando-se, claro as individualidades). Tendemos a nos sentir fragilizados e rendidos quando estamos amando, ao invés de fortalecidos e felizes. Sempre ao lado do amor ronda o fantasma do medo da perda. Paradoxo? Sim, claro!!! Mas, muitas das vezes o medo da perda antecede a auto-permissão para amar....daí, tendemos, para não deixar "na mão" do Outro o desprezo, a desprezarmos antes...

Nem sempre seremos amados, mas diante a temática do relacionamento amoroso, algumas outras questões surgem:

- O que nos faz amar (ou continuarmos amando) quem não nos ama? Seria não desistirmos do nosso projeto ideal para com essa pessoa? Desistir do NOSSO projeto faria com que desistíssemos dele(a) também!!! E porque insistimos em manter nosso projeto (somente nosso) com o Outro? Dificuldade de aceitar que o Outro não quer compactuar conosco? Medo de não encontrar outra pessoa?

- Para uma mulher conquistar um homem, precisaria ela não demonstrar interesse por ele? Ou ao contrário, ir com tanta "sede ao pote", o assustando com sua voracidade? Homens!!! Qual seria o meio-termo???? Muitas mulheres até pagariam por essa dica!!!!!

- É vergonhoso para um homem dizer que ama uma mulher, que é fiel à ela? Ele somente vai reconhecer e assumir isso quando estiver diante a possibilidade da perda ou já ter perdido? Temos que aprender a valorizar o que temos para ficarmos menos no vazio!!!!

- Porque mulheres tendem a não gostar de homens "bonzinhos, amorosos"? Será que estão tão acostumadas com os "cafajestes" que não conseguem dar valor aos bons, assemelhando-os a "bobinhos"? Cuidado com isso! Vocês podem estar perdendo excelentes companheiros que realmente têm condições de valorizarem vocês!!!!

- É dificil entendermos e assumirmos que precisamos do outro? Que podemos dizer isso sem medo de parecermos ridículas(os) e sentirmo-nos rejeitadas(os)? E se o Outro não retribuir?Estará na sua condição livre para não corresponder. Mas será que aceitamos tal condição alheia e diferente da nossa? Ou desejamos nos expor com a garantia de que nosso projeto seja realizado? Não seria muita pretensão nossa, mesmo que este desejo possa parecer óbvio demais? Se assim o for, justifica-se nosso receio em expor nossos sentimentos...

- É difícil de entendermos que o casamento também dá a segurança de envelhecermos juntos, sem precisarmos nos entupir de butox, fazer não sei quantas lipos para tirar gorduras imperceptíveis aos olhos alheios, correr risco com cirurgias desnecessárias e lançar mão de outros recursos que, por vezes, nos deixam fíisicamente em contradição com nosso tempo de existência neste mundo?

Bem, sabemos que a transcendência de todas as contradições das relações amorosas ainda estão distantes de serem conseguidas, mas deixo aqui minha opinião.: não temos um modelo a seguir, mas ainda aposto no risco de tentarmos mostrar ao Outro o que ele representa para nós.

De uma maneira sensata, sem voracidade ou mesmo receio de como ele(a) vai reagir, pois apesar de estarmos nos revelando, nos expondo, isso não é sinônimo de vulnerabilidade. Se o outro não me corresponde não preciso ficar refém desse desamor. Respeitando-me posso buscar outra pessoa que goste de mim.

Mas para isso, primeiro precisamos ter consciência de que nos permitimos ser amados (não basta somente desejar, temos que nos permitir). Se não, é mais certo que o "dedo podre" entre em ação para detectar aquele(a) que nos fará sofrer bastante (Contradição? Claro que não! Há aqui muita coerência da nossa escolha com a nossa baixa auto-estima).

Uma outra não permissão a ser reconhecida é aquela imposta pelo Outro, que tomo como minha. Já conheci pessoas tão ligadas (para não ser muito imperativa ao dizer aprisionadas) pela sua família de origem que, mesmo desejosas por um relacionamento mais duradouro, não se sentem avalizadas para isso, daí suas escolhas já serem direcionadas para não dar certo a relação.

Segundo, devemos ter consciência do que queremos com o outro, que projeto desejo com a outra pessoa, haja vista que se for só para preencher nosso vazio, se for somente para não ficar sozinha(o), o(a) primeiro(a) que nos acenar com a possibilidade de sairmos desse vazio, será o(a) escolhido(a) e depois de preenchido o vazio não saberemos o que fazer com a relação. Tendo consciência de qual é o nosso projeto com o outro, fica mais fácil identificar aquele(a) que mais se afina com esse, daí descartamos, com maior precisão, a possibilidade da escolha ser feita pelo "dedo podre".

Um outro aspecto é a admiração. Este é um dos sentimentos que sustenta a relação, por isso, tente fazer por onde ser admirado(a), busque invistir em você. Não falo aqui em ser endeusado(a), pois assim a relação estaria fundamentada no ilusório e não no real. Ser admirado(a) vem em decorrência de fazermos as coisas que gostamos, pelo menos dentro das possibilidades, com isso estaremos mais felizes, com uma melhor auto-estima. Mas se isso provocar no outro uma inveja destrutiva, reflita se vale a pena manter a relação, pois você pode ser enfiado num poço de lama, uma vez que seu sucesso será um soco no estômago do(a) outro(a) e ele(a) pode retribuir querendo te menosprezar, principalmente diante seus amigos.

Sinto desiludir alguns, mas achar que somente o amor romântico sustenta a relação é comprar passagem para o fracasso. O amor é expresso em ações que devem estar balizadas no respeito a individualidade alheia e na construção de projetos em comum. Se um casal não tiver projetos afins, cada um andará para um lado e as máximas de que "somos dois em um", "a metade da maçã", que "você é o ar que eu respiro" fará com que o outro fique sem oxigênio, logo "morrerá na relação". Um relacionamento amoroso é composto por duas pessoas diferentes que caminham juntas e que devem se respeitar nas suas individualidades.

E se a construção de alguns projetos é realizado em comum, os compromissos, as escolhas e responsabilidades em comuns devem ser também divididas. Se um só for o culpado já virou relação de poder e competição e neste tipo de relação não há cooperação, um sempre deve perder e se um perde, a relação perde. Aliás, muitos mantêm uma relação para ter em quem despejar suas responsabilidades e culpas, este é o projeto de muitas dessas relações...

Os papéis de mãe e de pai são diferentes do de marido e mulher. Os filhos não podem ser responsáveis por salvar a relação, tampouco de mante-la. Se muitos casais mantêm-se juntos "por causa dos filhos" é bom que assumam isto como projeto seus e não dos filhos. Eles não devem carregar o peso da responsabilidade de uma escolha que não é deles.

A responsabilidade do casal é com sua própria família. Cuidado com culpas geradas por "abandonar" a família de origem em função de ter que cuidar de sua própria. Seus filhos, quando constituírem a deles, também não terão a obrigação de cuidar de vocês, sem a real necessidade, óbvio. Com isso, não devemos esquecer de cultivar a relação de marido e mulher, independente da de pai e mãe.

Enfim, apesar de parecer um "receituário sobre como ter um bom relacionamento amoroso", longe disso!!! Sendo o que eu penso, não quer dizer que seja o melhor para o(a) leitor(a), mas dividindo com vocês meu posicionamento, posso levar-lhes mais um olhar sobre o tema. E também tenho plena consciência de que falar é fácil, mas vivenciar é que é difícil, pois tudo vai depender muito de nosso projeto de vida, nossa auto-imagem e auto-estima e o quanto temos ou não consciência reflexiva do como estamos construindo nossa existência.

Ah! Só mais uma coisinha: muito cuidado com as ideologias desses tipos de filmes, apesar de muitos viverem à luz desse tipo de "verdade", não é a única maneira de se construir um relacionamento amoroso!

Um abraço a todos(as)!!
Sylvia

5 comentários:

  1. Fabulosa como sempre né profe!!! Parabéns!!!

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  2. Sylvia querida
    Lindo blog! Muito sucesso!!!!
    Já sou sua mais nova seguidora. Aliás,duplamente - rsrs.
    E aproveito para convidar vc pra visitar meu blog tb e me seguir: www.exorcizesuaalmagorda.blogspot.com
    Só assim ficamos mais próximas nesse mundo virtual.
    Beijíssimos!!

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  3. Que delicia de blog, virei fã instantanea, parabéns querida mestra.
    bjks
    zilda

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  4. Concordo com o que você escreveu, não assisti os filmes, mas acredito que a máxima do bom relacionamento é estar bem consigo mesmo. Amar-se também significa permitir ser amada.
    Belos ensinamentos, parabéns.Bjs

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  5. Adorei ler este texto... e me restou uma saudade gigante dos nossos encontros semanais!!!
    Em setembro/outubro estarei aí!! Quero te encontrar!! Tenho muito para compartilhar!!! rsrss
    Beijos

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